30.3.11

Balanço arquitetônico - Roberto Segre

Professor da pós-graduação da UFRJ, coordenador do Docomomo Rio e autor de, entre outros, América Latina fim de milênio, raízes e perspectivas de sua arquitetura (Nobel, 1991) e Museus brasileiros (Viana & Mosley, 2010).


1- A obra que vai marcar esta década é o museu da Fundação Iberê Camargo, de Álvaro Siza. Ela representa a preocupação de Siza de inserir-se no contexto da paisagem e se relacionar com a cultura arquitetônica local, quando cita a influência de Oscar Niemeyer e Lina Bo Bardi. Mas, ao mesmo tempo, estão presentes a finura e o exigente detalhamento que caracterizam seu trabalho, tanto na seleção severa dos materiais, quanto na obsessão em utilizar o cimento branco na totalidade das superfícies externas. A intensidade volumétrica do conjunto, na articulação dos canais de circulação com a massa compacta do prédio, transformase em continuidade espacial no interior, em que se estabelece um diálogo entre a dimensão do vazio central e as salas distribuí-das nos diferentes andares. E a grande originalidade consiste na obtenção dessa continuidade espacial com uma estrutura maciça de concreto armado, em que não aparecem colunas.

2 - O fato mais importante da década é que acabou a absurda dualidade e o antagonismo histórico entre as “escolas” paulista e carioca, que deixava de fora a produção de outras regiões do Brasil e que se transformou em um pluralismo arquitetônico com orientações diversificadas: o high tech caseiro de João Filgueiras Lima e de Siegbert Zanettini; a interdisciplinaridade de Isay Weinfeld; a integração entre a linguagem contemporânea e o regionalismo em Marcio Kogan, Bernardes & Jacobsen e Marcos Acayaba; o minimalismo do escritório gaúcho Studio Paralelo, mas também dos paulistas Angelo Bucci, Andrade Morettin e Lua e Pedro Nitsche, entre outros.

3 - Com a perspectiva do Mundial de Futebol em 2014 e da Olimpíada em 2016, os olhos do mundo estão focados no Brasil e nos projetos para esses eventos. Apesar de o Brasil não ter sofrido as conseqüências negativas da crise econômica mundial que caracterizou a década, tampouco teve um desenvolvimento arquitetônico que o definisse com uma personalidade específica. Existe um desejo de conhecer a obra da nova geração emergente, mas nas publicações internacionais se mantém a insistência na produção dos mestres: Paulo Mendes da Rocha, Oscar Niemeyer, Ruy Ohtake, Isay Weinfeld, Gustavo Penna.

4 - A intensidade da construção nesta década foi consideravelmente maior que na anterior. O desenvolvimento econômico esquentou a especulação imobiliária, mas não teve repercussão na boa arquitetura. Os investimentos nas obras sociais, como o PAC, as iniciativas dos estados e das prefeituras facilitaram a produção de projetos nas áreas periféricas das grandes cidades, nos espaços das favelas e na realização de edifícios públicos, como o conjunto de escolas de segundo grau no estado de São Paulo, e novas áreas verdes e infraestruturas esportivas.
E também a iniciativa privada foi mais exigente com a criatividade dos projetos, concretizando-se obras interessantes, como a agência Loducca (Triptyque), o Centro de Arte Contemporâneo Inhotim (Rodrigo Cerviño Lopez), o Centro de Pentatlo Moderno (Bruno Campos, Marcelo Fontes e Sílvio Todeschi), as obras pouco citadas de Marcelo Suzuki (Fórum de Cuiabá e o Tribunal de Justiça de Mato Grosso) e os hotéis Fasano (Marcio Kogan e Isay Weinfeld) e Unique (Ruy Ohtake).

5 - A década foi ainda dominada pela geração dos mestres, o que dificulta o surgimento de novas figuras relevantes, especialmente quando são escassos os concurso de obras de grandes dimensões, que permitiriam o surgimento de alguma nova personalidade. Os anos 2000 continuaram sob o domínio de Oscar Niemeyer, Paulo Mendes da Rocha, Ruy Ohtake, João Filgueiras Lima, Eduardo Índio da Costa, Königsberger & Vannucchi, Aflalo & Gasperini, Gustavo Penna, Roberto Loeb, Brasil Arquitetura, Siegbert Zanettini, Isay Weinfeld, João Diniz, Marcos Acayaba, Flávio Kiefer, entre outros profissionais. Mas seria injusto não citar os escritórios dos jovens
arquitetosque tentam abrir espaço no panorama nacional como, por exemplo, Carla Juaçaba, Yuri Vital, Humberto Hermeto, Arquitetos Associados, Una, FGMF, Bruno Lima, Chico Rosa, Lula Marcondes, Álvaro Puntoni, Estúdio Sete43 Arquitetura, SPBR, Procter & Rihl.


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