30.3.11

Balanço arquitetônico - Renato Anelli

Professor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos (USP) e autor, entre outras publicações, de Rino Levi: arquitetura e cidade (Romano Guerra, 2001) e Architettura contemporanea in Brasile (Motta, 2008).

1- Foi uma década com um bom número de projetos de alta qualidade arquitetônica, dos quais nenhum se destaca nitidamente. Escolho o Fórum de Cuiabá, concebido pelo arquiteto Marcelo Suzuki, pela capacidade de aplicar inovações originadas em pesquisas acadêmicas das áreas de sustentabilidade e estruturas em uma arquitetura ao mesmo tempo sistêmica e bela.

2 - Vejo um amadurecimento das principais correntes que surgiram na década anterior. Destacaram-se os arquitetos que procuraram renovar os postulados modernos a partir das condições atuais, superando a oposição entre moderno e contemporâneo que marcou as duas décadas anteriores.

3 - Obviamente a arquitetura brasileira é aquela feita por brasileiros, mas não podemos esquecer o significado cultural e político que essa qualificação tem. Após anos de globalização e aparente diluição de fronteiras nacionais, a atual retomada do desenvolvimento do Brasil pode recolocar a questão da identidade nacional também para a arquitetura. Difícil adiantar o que poderia vir a ser essa identidade brasileira neste século. Tanto o isolamento nacionalista quanto o deslumbramento com tudo que se produzia no exterior se esgotaram, dando lugar a uma inserção internacional mais equilibrada.

4 - Nem um, nem outro, apenas alguns desenvolvimentos em certos pontos. É notável a ampliação da demanda pública. A maior ação do Estado se expressa através de políticas públicas nas áreas de habitação, planejamento urbano, equipamentos sociais e infraestrutura, para as quais a contribuição da cultura arquitetônica brasileira vem sendo, infelizmente, pouco aproveitada. No setor privado os avanços são decorrentes de uma nova clientela interessada em contratar projetos sem resquícios provincianos, capazes de colocá-la em um nível de igualdade com seus interlocutores estrangeiros. Oferecem oportunidades estimulantes para uma produção sofisticada e inovadora.
                         Com isso são construídas casas, prédios de apartamentos e edifícios corporativos de alto custo e qualidade, que estimulam o desenvolvimento da cadeia produtiva da construção civil, da decoração e do design. Consolidam-se também as novas formas de atuação direta junto à sociedade civil, tendo as assessorias técnicas aos movimentos sociais por moradia se tornado um modelo para novas formas de organização da atuação profissional. Por último, merece desta que a ampliação da bibliografia disponível sobre arquitetura brasileira, fruto direto do desenvolvimento da pós- graduação na área. Forma-se um corpo de informações e análises que enriquece a cultura arquitetônica brasileira.

5 - Paulo Mendes da Rocha foi o principal destaque. Deu continuidade à fase madura de sua obra, agora com maior projeção internacional graças ao Prêmio Pritzker. Suas parcerias com arquitetos mais jovens fornecem uma perspectiva de continuidade da fértil renovação da tradição moderna brasileira. Também Lelé atingiu nesta década um nível muito elevado de obras, infelizmente prejudicado pelas limitações institucionais que enfrenta.
Por outro lado, a produção das novas gerações de bons arquitetos em várias regiões do país é muito promissora.

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