30.3.11

Balanço arquitetônico - Mônica Junqueira de Camargo

Arquiteta, professora da FAU/USP e autora, entre outras publicações, de Joaquim Guedes (Cosac Naify, 2000) e Fábio Penteado: ensaios de arquitetura (Empresa das Artes, 1998).

1- Impossível selecionar um único projeto de uma vasta e diversificada produção de dez anos. Apenas nessa pesquisa foram identificados vários. Acho mais produtivo entender as justificativas dos meus colegas para suas escolhas.

2 - Vejo uma crescente disposição, sobretudo entre os mais jovens, de enfrentar a atual complexidade da realidade urbana em detrimento do ideal de criar uma nova realidade. O respeito às preexistências tem imposto uma nova dimensão à arquitetura. A questão da preservação, tanto da paisagem como do espaço construído, alterou a própria ideia de arquitetura, impondo um novo sentido às intervenções no ambiente natural e construído. A expansão da noção de patrimônio alterou o campo disciplinar: o que antes era uma tarefa de especialistas passou a exigir uma compreensão generalizada de toda classe profissional que se dispõe a projetar em ambientes constituídos.

3 - Ainda acredito na potencialidade da arquitetura em contribuir para a solução dos problemas urbanos, não apenas aqueles de ordem prática, mas também aqueles que se referem à criação de alternativas de convívio social.

4 - Não colocaria nesses termos, mas como um balanço das conquistas e dos desafios que se apresentaram aos arquitetos nesses últimos dez anos. Por um lado, ampliou-se muito o conhecimento do campo disciplinar, facilmente verificável pelas pesquisas e pelas publicações sobre arquitetura, bem como pelo crescente número de escolas que se abrem no país. Por outro, houve total desagregação da ação coletiva, nunca a classe profissional esteve tão dispersa. Desconheço a realidade dos outros estados, mas em São Paulo não há nenhum órgão representativo que agregue um trabalho coletivo. Nada se consegue no plano individual, apenas no coletivo as ideias se viabilizam.

5 - Os melhores arquitetos contemporâneos são aqueles que, de diferentes maneiras, se dispuseram a enfrentar as dificuldades do nosso tempo, e não se deixaram seduzir pelos atraentes apelos da moda. Tenho muita confiança nos jovens. Há muitos talentosos e conscientes dos desafios que se colocam à atuação dos arquitetos.

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