30.3.11

Balanço arquitetônico - Fernando Diniz Moreira

Arquiteto pela UFPE e doutor em arquitetura pela Universidade da Pensilvânia (EUA), professor
da FAU/ UFPE e diretor geral do Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada.

1- O museu da Fundação Iberê Camargo. Esse edifício é importante porque nele Álvaro Siza resolveu brilhantemente os maiores desafios em projetos de museus na atualidade. Como importantes marcos e instrumentos na atração de recursos, os grandes museus revelam-se, muitas vezes, objetos estranhos ao lugar em que foram inseridos. Além disso, suas marcantes expressões arquitetônicas parecem não deixar espaço para a contemplação das obras de arte ali expostas. Siza demonstra uma sensível interpretação do contexto, transformando as restrições em potencialidades. O caráter hermético da construção, a geometria fraturada, o revestimento em concreto bruto, as formas brancas e suas aberturas peculiares encontram no contexto suas razões.
               O complexo esquema de circulação, formado por passarelas que se projetam para fora do edifício, constitui um nítido rebatimento das linhas topográficas do terreno. No exterior, o vazio criado entre as linhas curvas do volume e as passarelas gera interessantes efeitos de luz e sombra. Internamente, esse jogo de percursos permite a integração visual dos espaços. Siza perfura as passarelas com diferentes aberturas em pontos específicos do percurso; estas atraem o visitante e fazem da própria paisagem uma obra de arte a ser contemplada. Ao distinguir os espaços de circulação e de exposição, Siza resolve o conflito entre a dimensão introspectiva para a contemplação da obra de arte e a expressividade arquitetônica requerida pelo edifício.

2 - Nossa experiência moderna, particularmente aquela paulistana dos anos 1960, foi recuperada de forma mais autônoma e criativa, com novos materiais, programas e tecnologias, abrindo caminhos de investigação. Acredito que nenhuma nova corrente tenha sido iniciada nos ultimos dez anos, mas houve um amadurecimento e uma consolidação de temas gestados na década anterior. Há uma clara preferência por formas abstratas, pela simplicidade, pela exploração de contrastes e de superfícies, além da inventividade para trabalhar com limitações financeiras e tecnológicas.

3 - Prefiro responder esta questão daqui a alguns anos, quando avaliarmos as respostas a três grandes desafios: como fazer uma arquitetura sustentável sem recorrer apenas a tecnicalidades periféricas, mas incorporando esses novos valores à prática arquitetônica de forma mais ampla, inclusive recorrendo a nossa herança moderna; como encontrar um futuro para o enorme estoque construído ao longo do século 20, inserindo novos usos, requalificando-o, mas procurando manter suas características; e como organizar e dar um sentido a todas as infraestruturas de transportes que nossas cidades deverão receber no novo ciclo de crescimento.

4 - Avanços. A arquitetura da década mostrou maior atenção ao caráter tectônico, à junção e à articulação dos materiais, e maior investigação sobre as superfícies, sua fabricação e seu papel na proteção contra o calor e a luz. Existiu também maior comprometimento com o lugar, com a inserção de edifícios no contexto urbano e na
paisagem, de forma mais criativa. Ocorreram ainda avanços na conservação, recuperação e reciclagem de estruturas históricas. Por fim, ainda que tímida, houve uma atenção para a questão da sustentabilidade. Evidentemente, estamos falando de uma pequena parcela de nossa arquitetura, aquela mais erudita. Não sou otimista em relação à arquitetura que vem sendo feita no dia a dia das cidades.

5 - Consolidaram-se grupos de arquitetos paulistas que já vinham florescendo desde a década passada, como Brasil Arquitetura, Kogan, MMBB, Puntoni, Andrade Morettin, Una e Nitsche. Belo Horizonte também tem se firmado como um centro de renovação por meio do instigante trabalho de escritórios como Arquitetos Associados e Vazio. Em outras regiões do país, destacaria os trabalhos de Roberto Moita (AM), Roberto Montezuma (PE) e Paulo Henrique Paranhos (DF).

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