30.3.11

Balanço arquitetônico - Guilherme Wisnik

Professor da Escola da Cidade, autor de Lucio Costa (Cosac Naify, 2001) e Estado crítico: à deriva nas cidades (Publifolha, 2009). É curador de um projeto nacional de arte urbana pelo Itaú Cultural.

1- Na minha opinião é o CEU [Centro de Educação Unificado, em São Paulo], devido a um somatório de fatores: a qualidade arquitetônica, a relevância social, o significado urbano, as concepções ética e educacional embutidas, e o fato de ter sido pensado e executado como um sistema com escala compatível à de uma metrópole como São Paulo.

2 - Não vejo.

3 - Mais do que saber combinar o brisesoleil ao cobogó, os nossos arquitetos hoje dão mostra de inteligência quando - como no caso do MMBB em 2007, na Bienal de Roterdã - vencem um prêmio internacional dedicado a propostas para a cidade contemporânea pensando em equipamentos como os piscinões, e articulandoos aos
caminhos de águas da cidade, e uma desejada rede capilar de espaços públicos.

4 - Parece-me que o que se deu foi um desdobramento de tendências surgidas na década anterior. Ao menos essa é a sensação que temos lendo a revista PROJETO DESIGN de dez anos atrás. O Prêmio Pritz-ker dado a Paulo Mendes da Rocha em 2006 representa a consagração daquela tendência, e, ao mesmo tempo, serve também de enorme incentivo para um avanço da nossa arquitetura, na medida em que nos coloca diante de parâmetros de avaliação internacionais, não só trazendo mais atenção para a produção arquitetônica brasileira, como também puxando-a na direção de uma necessária desprovincianização de valores. Contudo, vivemos uma situação paradoxal. Por um lado, com a reconfiguração geopolítica mundial, o Brasil passou a ser, de certa forma, uma vedete. Com isso, não apenas os estrangeiros estão interessados culturalmente pelo país, como querem também atuar economicamente aqui. Todos sabem que teremos no Brasil grandes obras de edificação e de infraestrutura nos próximos anos. No entanto, deixando de lado a grave questão da corrupção e da falta de transparência e legitimidade na escolha dos escritórios que vão realizar essas obras, é preciso reconhecer que, diante da nova realidade das megaobras globais - em que a arquitetura se tornou uma marca com poder publicitário e econômico de grande monta -, os escritórios nacionais praticamente não têm como assumir tais encomendas.
              O problema não é exatamente o fato de estarmos defasados tecnologicamente. A questão é também de escala. Diante do atual padrão blockbuster de projeto/construção, parece que os nossos escritórios estão condenados a trabalhos de joalheria artesanal. Como diz Rem Koolhaas, a profissão de arquiteto é uma mistura esquizofrênica de onipotência e impotência. Só que para nós, ultimamente, é a segunda que tem dado o tom. Mas como diz também o mesmo Koolhaas, o arquiteto é um dos profissionais que mais “gosta” de se lamentar, e eu concordo com ele que essa lamúria não é muito produtiva. Portanto, retomando o exemplo positivo do CEU, podemos notar que o seu sucesso não apenas pressionou os outros órgãos públicos (como a Fundação para o Desenvolvimento da Educação) a melhorar a qualidade arquitetônica dos seus projetos, como também impulsionou um expressivo avanço quantitativo de obras escolares na década, das quais fazem parte também as novas universidades federais (Unifesp). Note-se que no quesito escolas, na enquete da década passada tínhamos apenas edifícios privados.

5 - Não estamos em um momento revolucionário, mas de estabilização da linguagem, o que aumenta a qualidade do nível médio em detrimento dos desempenhos excepcionais. Como balanço geral, diria que nos anos 2000 assistimos, por um lado, a sinais de enfraquecimento da autorrepresentação da profissão, com a derrocada do IAB e da Bienal de Arquitetura, por exemplo. Mas, por outro lado, tivemos avanços importantes no que refere à democratização do uso do espaço urbano, com a criação de um documento como o Estatuto das Cidades, e de eventos como o Fórum Social Mundial e a Virada Cultural. Além do CEU, é claro.

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